Os estádios ocupam lugar de destaque nas cidades desde o Coliseu em Roma. Não só por serem um espaço destinado a reunir multidões, mas também porque sendo equipamentos urbanos de grande porte, sua monumentalidade traz implicações significativas para a paisagem urbana.
Mas da Roma Antiga aos tempos de agora, o urbanismo evoluiu bastante. Sabe-se que estádios são equipamentos urbanos que passam a maior parte do tempo fechados, ociosos. Aos justos festejos por terem sido as escolhidas para sediar os jogos da copa de 2014, as cidades precisam adicionar, portanto, um pouco de atenção com as implicações que os projetos de remodelação dos estádios vão trazer para o seu cotidiano.
Para que o dinheiro público - dinheiro das cidades, dos cidadãos - seja bem aplicado, não basta que o estádio seja bom por dentro. Não basta que seja bom para torcedores. Não basta que seja bom para FIFA. É preciso seja bom para a cidade; é preciso que seja bom para os bairros, onde se localizam; é preciso que seja bom para os moradores da sua periferia; é preciso que seja bom no cotidiano das cidades e não apenas nos dias de jogos; é preciso que seja bom todos os dias de todos os anos e apenas durante o evento da copa.
O projeto de arquitetura e o projeto de inserção urbanística desses estádios devem, portanto, atender essa a perspectiva. Para que as bordas desses estádios não se tornem lugares ermos, destinados ao delito, suas periferias de contato com a cidade devem ser projetadas para ser lugares do lazer cotidiano dos moradores das cidades, de forma a garantir uso constante e vitalidade urbana dessas áreas, mesmo quando não estejam ocorrendo jogos.
Nesse sentido, esses projetos precisam ser submetidos aos mecanismos de audiência pública, até porque o Estatuto da Cidade prevê a realização de estudo de impacto de vizinhança (EIV), quando da realização de grandes empreendimentos nas cidades. É o caso.
Resumindo: nada contra a FIFA, as agências de viagem, os hotéis e as companhias de aviação. Tudo em favor das cidades. Como dizia o Barão de Itararé: as conseqüências vêm depois. E, como ele poderia ter dito: os eventos passam, as cidades ficam.