A reestruturação produtiva e seus impactos sobre a cidade não são
novidade, basta recordar a forma como as cidades foram impactadas pela
revolução industrial que se iniciou em fins do século XVIII. A atual reestruturação
produtiva se dá acompanhando a crise do fordismo, a partir do final da década
de 1960, e vem produzindo vários impactos sobre a cidade.
Um dos primeiros
impactos da reestruturação produtiva que gerou desdobramentos urbanísticos foi
o impacto dos containers sobre as áreas portuárias. O container não só afetou a
mão de obra portuária, com desdobramentos sobre as áreas urbanas que abrigavam
os grupos sociais vinculados a atividade portuária, como também afetou todo o
processo de armazenamento de mercadoria nessas áreas, com consequente impacto
sobre edificações e áreas urbanas ligadas ao armazenamento de cargas nos
portos. “Os portos de Boston, Nova York, Baltimore, Roterdã, Amsterdã, Londres,
Buenos Aires, Asntos e dezenas de outras cidades passaram por processos muito
similares” [1]
Este processo se desdobrou em políticas urbanas, dando origem a
processos de intervenção urbana. O caso de Baltimore (EUA) é visto como
paradigmático, mas seguem-se outros como os casos Docklands, em Londres, Puerto
Madero, em Buenos Aires, até o recente caso do “Porto Maravilha”,
no Rio de janeiro. Essas intervenções se associaram a ideia de revitalização do
“waterfront” das cidades.
Mas quando se fala da recente em reestruturação produtiva não se pode deixar de
mencionar os computadores e a internet. Sim, computadores não são tudo no
processo de reestruturação produtiva, mas os computadores e a internet
desempenharam um papel importante nesse processo a partir da década de 80 na
década de 90. Logo de inicio profissões como a dos datilógrafos sofreram grande
impacto e acompanhando esse impacto houve uma redução significativa das áreas
ocupadas por escritórios. Com a combinação da internet foi a vez de atividades
como a dos bancos se reestruturarem. Esse processo afetou a contabilidade
bancária com impacto sobre empregos e instalação dos bancos. Logo em seguida
surgiram os caixas eletrônicos que foram colocados dentro de
farmácia do supermercado, espalhados pela cidade. Tudo isso com grande impacto
sobre a localização das atividades urbanas nas cidades.
Ainda nos anos 1990 começa a se desenvolver o comércio via internet,
atingindo de modo geral o “comércio de rua”. A Amazon Foi fundada em 1994. A empresa começou como um mercado
online de livros, mas expandiu-se para vender eletrônicos, software,
videogames, vestuário, móveis, alimentos, brinquedos e joias. Em 2015, a Amazon
superou o Walmart como o varejista, nos EUA. O
comércio via internet não afeta apenas as lojas comerciais, mas também a
localização de produção. Um livro, escrito em inglês, pode ser produzido no
Canadá e vendido aos EUA ou ao Brasil.
Na década inicial dos anos 2000 a internet e os computadores e celulares
deram início a uma nova mudança que atingiu a difusão de produtos culturais, de
jornais a shows musicais. Plataformas como podcast (2004), facebook (2004),
youtube (2005), spotyfy (2008). No mesmo período lojas de aluguel de DVD para
filmes, lojas de CD e livrarias foram também atingidos progressivamente, por
essas plataformas e pelo comercio pela internet.
Nesse período, jornais e revistas, por exemplo, passaram a ser
veiculados pela internet, agora também a celulares que acompanham as pessoas em
toda parte, atingindo toda a cadeia produtiva de jornais e revistas, da
distribuição na banca de jornal, a fábrica de papel, passando por gráficas onde
se realizava a impressão. E tudo isso trouxe consequências para a cidade, na
medida em que produzem um esvaziamento econômico daquelas áreas onde se localizam
as atingidas por esse processo, bem como as áreas de residência dos grupos
sociais vinculadas a essas atividades.
O impacto do covid-19 o Home Office deu um salto no processo de
transferência das cadeias de trabalho para a internet, atingindo fortemente as
áreas centrais das cidades e processo de mobilidade urbana. Esta nova mudança
aponta para uma reestruturação em grande escala sobre a localização do trabalho
intelectual nas cidades, inaugurando uma nova fase de organização do trabalho
no território.