quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Desenvolvimento: mas o que é desenvolvimento?



Vive-se um momento de crise, sem duvida. Todos entendem que se trata de uma crise porque não há desenvolvimento e entende-se que não há desenvolvimento porque o PIB não cresce.
 
Com a ascensão de uma cultura capitalista a noção de desenvolvimento passou a se associar a ideia de aumento da renda, expressa em indicadores como o PIB (Produto Interno Bruto) e o PIB per capita. Porém, o PIB, ou o PIB per capita, são apenas indicadores de renda, tendo em vista a correlação existente entre renda e desenvolvimento, nas sociedades com economia capitalista.

No entanto, considerando que a renda é apenas um dos possíveis indicadores do desenvolvimento, surgiram outros indicadores de desenvolvimento como o IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, implementado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), com o objetivo de oferecer um contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, por ser esse indicador restrito à dimensão econômica do desenvolvimento.

Buscando ampliar a perspectiva de análise do desenvolvimento, a base do calculo do IDH são saúde, educação e renda.[1] Mas, apesar do IDH ser, de fato, uma forma mais precisa de reconhecimento do desenvolvimento, o próprio PNUD reconhece que o IDH não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e em função disso outros indicadores foram formulados e considerados pelo PNUD: o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD), o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG) e o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM).

No sentido de refletir sobre a questão do desenvolvimento, para uma compreensão melhor do tema, vale recorrer a formulação de Leslie White quando indica que o objetivo do desenvolvimento é fazer com que “a vida se torne mais segura e duradoura” (White, 2009: 43), ao que pode acrescentar a ideia de uma vida mais satisfatória. Seriam esse os objetivos do desenvolvimento e, aceitando-se esse ponto de vista, o desenvolvimento pode ser visto como um processo progressivo através do qual a sociedade busca uma vida mais segura, mais duradoura e mais satisfatória.

Na verdade, portanto, o PIB apenas sinaliza um provável aumento nas condições que favorecem à existência de uma vida mais segura, mais duradoura e mais satisfatória mas, como do ponto de vista individual, essa perspectiva é reforçada pela experiência cotidiana, ou seja, numa sociedade capitalista quem tem mais dinheiro, tem maiores chances de segurança, longevidade e prazer, reduz-se o debate sobre o desenvolvimento ao problema de aumento do PIB.

Porém, para países e cidades a coisa não se reproduz exatamente do mesmo modo e, nesse sentido, basta lembrar que países e cidades com o mesmo PIB per capita apresentam diferentes condições de segurança, longevidade e prazer para os seus habitantes.


[1] Segundo o site do PNUD esses indicadores são considerados da seguinte forma: uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida; o acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que um criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança; e o padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar, tendo 2005 como ano de referência. Publicado pela primeira vez em 1990, o índice é calculado anualmente. Fonte: http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH

quarta-feira, 10 de junho de 2015

O urbanismo contemporâneo e a memória e identidade coletivas nas cidades


Se a identidade é o que distingue os diferentes, é também a identidade que aproxima os semelhantes. O compartilhamento de uma identidade é um dos elementos que está na base de existência de todas as coletividades humanas. Uma coletividade só pode se constituir com base no compartilhamento de identidades. A identidade uma força que agrega os membros de uma coletividade: classe, religião, cidade, pais ou qualquer outra.

            A identidade é a condição básica para soma de esforços dos indivíduos em torno de objetivo comum e, no sentido oposto, as ações de violência encontram apoio em processos de (des)identificação social: racismo, homofobia, machismo, fascismo, conflitos entre quadrilhas e gangs, guerras, encontram nos processos de (des)identificação, baseados na construção do outro como ser essencialmente diferente, uma importante fonte de energia. A (des)identificação é a base que permite a um ser humano exercer, sem conflito interior, a violência sobre outro ser humano.

A memória é essencial para a identidade, pois sem memória não é possível lembrar quem se é, nem como se chegou a ser quem se é. A identidade está estruturalmente ligada à memória que é um de seus vínculos com a realidade. A memória dá sentido histórico à identidade: é a memória que vincula a identidade ao conjunto de acontecimentos, circunstancias e estruturas históricas que a forjaram.

A cidade é um palimpsesto escrito por diferentes modos de urbanização históricos. O urbanista contemporâneo tem que ser capaz de ler essa escrita, pois ela tem significado para a memória e identidade coletivas. Só sendo capaz de ler essa escrita é que o urbanista contemporâneo será capaz de fortalecer a memória e a identidade coletiva das cidades aonde vier a realizar sua intervenção.