O slogan está espalhado pela cidade. Se beber vá de táxi, ônibus ou metro. A campanha é importantíssima: se destina a salvar vidas da morte, da invalidez, da culpa. Merece todo apoio e adesão.
Por isso mesmo é preciso, porém, assinalar que essa campanha padece de um dos males do tempo. Vivemos numa época quando empresas e governos preferem investir em propaganda, a investir na qualidade dos produtos e serviços que oferecem.
A campanha tem seus cartazes nos ônibus, nos táxis, e no metro. Mas na madrugada os ônibus são desconfortáveis, inseguros e raros, os táxis são caros e o metro, como se fosse a Cinderela, some depois da meia-noite.
Essa campanha poderia ampliar seu alcance se existissem órgãos públicos implementando novas soluções para o transporte para as áreas e nos horários de boemia da cidade; e com autoridade suficiente, sobre o sistema de transporte público, para viabilizar a oferta de transporte, de qualidade, considerando as características sócio-econômicas do público alvo da campanha, ou seja, os proprietários de automóveis.
Numa cidade, como o Rio de Janeiro, que se pretende turística e onde a vida noturna mostrou-se capaz de revitalizar áreas importantes da cidade, era de se esperar que essas soluções já existissem. Mas não é o que acontece.
É claro que, há quem veja na campanha “se beber não dirija” um caminho para retirar os pecadores das mãos de Dionísio. Associam a boemia ao alcoolismo; e o alcoolismo a violência e a degradação humana. Mas as situações de violência e degradação humana, associadas ao alcoolismo, começam, o mais das vezes, no botequim da esquina, ou dentro de casa.
Esquecem que a boemia é, na cidade, a festa da poesia, da música, da amizade, da urbanidade. É a esfera pública em confraternização. A boemia é a manifestação social que conduz a cidade em direção a civilidade.