domingo, 28 de julho de 2013

As manifestações de junho: camadas médias universitárias e redes sociais, na reestruturação da esfera pública.


“Em cena, o movimento citadino, com fundo de capitalismo em crise, e um perfil sombreado. A distância, como um eco, vozes de uma nova linguagem.” Manuel Castells.

 As manifestações de rua no Brasil, que se iniciaram em junho, também chamadas de revolta do vinagre, pela forma como os manifestantes resistiram a violência policial, tiveram como estopim mais uma rodada de aumento das passagens de ônibus nas cidades brasileiras. (Sobre o aumento das passagens ver artigo nesse blog: http://leonardomesentier.blogspot.com.br/2012/04/aumento-da-tarifa-do-transporte-urbano.html )
As manifestações animaram a formulação de uma agenda envolvendo: mobilidade urbana, em relação a todos os seus aspectos; qualidade dos serviços de saúde e educação públicos; pedágios; remoções e desapropriações, decorrentes de grandes intervenções urbanas; megaeventos, no que tange ao custo, ao projeto e a gestão dos equipamentos, bem no que diz respeito ao legado para as cidades; preservação do patrimônio cultural; e ainda outras questões, também relacionadas aos processos de consumo coletivo nas cidades. (Castells) Numa sociedade onde 85% das pessoas vivem em cidades, não é de espantar que o foco do debate sobre as políticas públicas se encontre nas questões relativas à cidade que temos e á cidade que queremos.

Na opinião de muitos intelectuais e das grandes mídias, a novidade dessas mobilizações foi terem sido organizadas e convocadas através de redes sociais. Mas será que as redes sociais só tiveram um papel importante no processo de mobilização e convocação das manifestações, ou também é possível identificar nas redes sócias uma relevante atuação na construção da insatisfação social, que está na base das manifestações?
Na sociedade contemporânea, as redes sociais estão se constituindo num novo e importante elemento da esfera pública, tal com sugerida por Habermas (1984). A esfera pública - onde estão presentes as atuações das grandes mídias, dos partidos políticos, de instituições do setor público, dos organismos da sociedade civil e das personalidades e estruturas acadêmicas - está sendo dinamizada e reestruturada, por esse novo elemento: as redes sociais articuladas pela internet que, como água, em penetram, as vezes de forma explicita, as vezes de forma invisível, em todos os entes da esfera pública, levando e trazendo, ideias e informações. Nesse sentido, as redes sociais estão se constituindo num vetor importante da definição social do que seja o interesse público.

“Segundo o Ibope Media, somos 94,2 milhões de internautas tupiniquins (dezembro de 2012), sendo o Brasil o 5º país mais conectado (do mundo). De acordo com a Fecomércio-RJ/Ipsos, o percentual de brasileiros conectados à internet aumentou de 27% para 48%, entre 2007 e 2011. O principal local de acesso é a lan house (31%), seguido da própria casa (27%) e da casa de parente de amigos, com 25% (abril/2010).” (Fonte: http://tobeguarany.com/internet_no_brasil.php)
Se a urbanização se materializa também no desenvolvimento de um sistema de transporte e comunicação, a internet, pelo seu impacto sobre os processos comunicacionais, representa em si mesma, um novo momento do processo de urbanização da vida social. A internet já é um dos elementos da nova cidade e está determinando o processo de construção das vontades e desejos que vão construir a nova cidade.

Dentro desse processo, de insatisfação com a cidade atual e de construção de um ideário de um imaginário sobre uma nova cidade, surge também uma nova relação entre os intelectuais (na perspectiva que Gramsci (1982) dá a essa palavra) e a esfera pública, pelo papel desempenhado pelas classes médias universitárias na internet. Nas redes sociais e em blogs, a classe média universitária, as academias e organizações profissionais, apresentam de maneira formal e informal, cotidianamente, comentários, análises e críticas, sobre políticas publicas e atuação dos governos, mantendo um diálogo permanente, direto ou mediado, com os movimentos sociais organizados e com a sociedade, de forma geral.
Nas internet opera um exército invisível de analistas e redatores com origem nas camadas universitárias, que influenciam os sentimentos coletivos produzindo ideias, teorias, representações de identidade, imagens e símbolos. Nesse sentido, a internet ‘empoderou’ as camadas médias universitárias e isso talvez explique o processo de perda de popularidade dos governos, que antecede as mobilizações, mas aumenta significativamente a partir das manifestações de junho.

Os recentes avanços sociais no Brasil, não se refletiram direta e concretamente na vida dos trabalhadores das camadas universitárias: nas ultimas décadas, enquanto o emprego aumentava, para quem ganha até dois salários mínimos; diminuía para quem ganha acima desse valor (Fonte: http://www.oim.tmunicipal.org.br/?pagina=detalhe_noticia&noticia_id=39092); “enquanto uma família chefiada por analfabeto teve um ganho de 88,6% na renda per capita nos últimos 10 anos (2001 a 2011), em uma família cujo chefe era uma pessoa com 12 anos ou mais de estudo, o rendimento caiu 11,1%” (fonte: http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/pais/protestos-nas-ruas-nao-sao-feitos-pelos-mais-pobres-diz-ministro-8833255 )
Nada indica que os processos de melhoria do emprego e da renda nas camadas mais pobres e com menos anos de estudo, precise implicar, necessariamente, em redução da renda nas camadas de renda média e com mais anos de estudo. Essa é uma característica específica do modelo econômico em curso, que já dá sinais evidentes de esgotamento. Dadas as novas condições de constituição da esfera pública, um novo modelo terá que surgir e será produto de uma construção política, num ambiente que já incorpora um novo papel das camadas médias universitárias na esfera pública.    

OBS: Também sobre internet e manifestações ver o ensaio: “Estados da consciência social: urbanização, internet e redes sociais”, que publiquei no Jornal Algo a Dizer no link: http://www.algoadizer.com.br/edicoes/materia.php?MateriaID=1084

Bibliografia:

CASTELLS, M. “Cidade, democracia e socialismo.” Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
GRAMSCI, A. “Os intelectuais e a organização da cultura.” 4ªEd. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
HABERMAS, J. “Mudança estrutural da esfera pública.” Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI): lança revista sobre o Centro Antigo de Salvador

No dia 31 de julho, será disponibilizada a mais nova publicação da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI): a revista eletrônica “Centro Antigo de Salvador - Território de Referência”.

Este estudo utiliza os dados do Censo 2010 e da Pesquisa de Emprego e Desemprego - PEDRMS para caracterizar o perfil socioeconômico dos moradores do Centro Antigo de Salvador (CAS). Território delimitado pelo IPHAN, quando definiu a Área de Tombamento do Centro Histórico de Salvador (CHS), e pelo Decreto Municipal que instituiu a Área de Proteção Rigorosa (APR) ao Patrimônio Cultural e Paisagístico de Salvador e a sua área contígua.

A publicação reúne informações sobre o perfil socioeconômico dos moradores e dos domicílios do CAS, a exemplo de população residente, idade, gênero, densidade de ocupação, mobilidade urbana, ocupação no mercado de trabalho.Também estão disponíveis entrevistas com técnicos governamentais e moradores.

O lançamento da revista eletrônica será no dia 31 de julho, no Conselho Estadual de Cultura, às 18h. Na ocasião, serão apresentados dois principais indicadores selecionados e haverá as palestras da professora Angela Gordilho (UFBA) e da arquiteta Beatriz Lima (ERCAS) sobre o Centro Antigo de Salvador.

A partir do dia 31de julho de 2013, a revista Centro Antigo de Salvador - Território de Referência estará disponível para download no site da SEI: www.sei.ba.gov.br

 
 

terça-feira, 2 de julho de 2013

TARIFA ZERO

TARIFA ZERO
Esse link é uma entrevista, bastante esclarecedora, com Lúcio Gregori, que foi secretário municipal de transportes de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina e é considerado um dos formuladores da idéia da tarifa zero. Essa entrevista faz parte do documentário "Impasse" (sobre o caos do transporte público urbano).