A prática sem teoria não passa de uma ação ignorante e a
teoria sem prática não passa de uma metafísica sem propósito. O que é
importante, portanto, é encontrar uma teoria que sirva prática e uma pratica teoricamente
orientada. Na verdade, quando se trata do urbanismo, a pratica é,
muitas vezes, também orientada por uma doutrina. Pode-se de forma simplificada
dizer que em relação a certo fenômeno ou estrutura social, a historia esta
preocupada em revelar “como foi que se deu seu desenvolvimento”, que a teoria
se coloca a questão de “como este fenômeno ou estrutura é”, e as doutrinas se voltam para a questão
de “como ele deve ser”.
Vale
lembrar que para o antropólogo Claude Lévi-Strauss(1908-2009) e que
marca o processo de constituição da cultura, entendo a cultura como traço que
diferencia os humanos das demais espécies, é o aparecimento de normas que,
expressando a vontade coletiva se sobrepõem as vontades individuais e instintos
(Laraia,1986:56) . Essa passagem nos indica o quanto é importante para a
sociedade o seu processo de desenvolvimento moral e normativo. Este processo
está fundado não só em teorias mas também em doutrinas que antecipam uma transformação
social.
Nesse
sentido é preciso considerar que o projeto de urbanismo e o planejamento
urbano, enquanto instrumentos que visam antecipar uma transformação social,
tendem a ser orientados não só por teorias e pelo conhecimento da historia, mas
também por doutrinas. Projetar e planejar são ações normativas, ou seja, a ação
do urbanista não esta simplesmente baseada naquilo que a cidade contemporânea
é, mas ela também é uma ação com
propositiva e normativa, no sentido de indicar aquilo que a cidade deve ser.
O plano
e o projeto são atividades que tem por objetivo gerar uma realidade que ainda
não existe e, portanto, são sempre de alguma forma fundamentados em doutrinas,
que constituem princípios normativos; e esses princípios normativos são o
fundamento ético do plano e do projeto, e devem ser enunciados com clareza e transparência,
para que a ação do urbanista seja compatível com vida democrática.
O
urbanismo como disciplina e pratica social se alimenta, portanto, dos conhecimento que a historia produziu,
das teorias sobre a cidade, a
urbanização e o próprio urbanismo, e de doutrinas que visam orientar a formação
da cidade, a partir de proposições de natureza ética e moral.