terça-feira, 28 de abril de 2009

A crise: ambiental, nas cidades, nos transportes.

A crise: ambiental, nas cidades, nos transportes.

Nos dias atuais não é possível pensar o futuro das cidades sem levar em conta o problema ambiental. Vivemos uma crise ambiental e é muito provável que o modo de urbanização tenha que se transformar, em suas características básicas, para reduzir seus impactos sobre as condições ambientais da vida em sociedade.

Dentro dessa perspectiva e considerando o sistema de transporte é um dos traços fundamentais do modo de urbanização, é relevante, para as cidades, repensar o seu sistema de transporte.

Nos últimos 60 anos, as políticas públicas no Brasil priorizaram um sistema de transporte rodoviário e dentro dele o automóvel, cuja propriedade se tornou um símbolo de sucesso para pessoas e famílias. Ao mesmo tempo se concedeu ao transporte público de massa um tratamento de segunda classe. O sistema de transporte coletivo tornou-se desconfortável e incorporou a marca da segregação social.

Mas considerando a questão ambiental, é possível prosseguir priorizando um sistema de transporte baseado no uso em larga escala do automóvel? Ainda que se possa argumentar que o uso de biocombustíveis resulta em menor impacto ambiental, não se pode deixar de considerar que um sistema de transporte baseado no transporte individual resulta em maior impacto ambiental que o sistema baseado no transporte coletivo.

Uma das diretrizes para reduzir os impactos ambientais do modo de urbanização é, portanto, a ampliação do uso do transporte coletivo. Coloca-se então a questão: como deve ser o sistema de transporte coletivo para que o automóvel fique em casa?

Frente à crise ambiental, pensar um modo de urbanização compatível com o desenvolvimento sustentável, é pensar em soluções baseadas no transporte de massa de boa qualidade e baixo preço. Permanecendo os transportes coletivos como hoje, será difícil que os que tem condições de andar de automóvel deixem seu carro em casa.

Só para se ter uma ideia do quanto se tem caminhado no sentido oposto, na cidade do Rio de Janeiro, enquanto caía a qualidade do metrô, como apontou a reportagem do Globo do ultimo fim de semana, o preço da passagem mais barata chegava R$ 2,80. Considerando que um carro popular faz 10 quilômetros com um litro de gasolina, e que o litro de gasolina custa R$ 2,70, qualquer deslocamento inferior a 10 quilômetros fica mais barato se for feito de carro. Significa dizer que no Rio de Janeiro, partindo-se da a Zona Sul ou da Tijuca, é mais barato chegar ao centro de automóvel, que de metro.

Resumo: o sistema de transporte esta andando na contra-mão do desenvolvimento sustentável das cidades.

sábado, 18 de abril de 2009

Aonde nos levam barcas, trens e metrô.

O protesto espontâneo realizado pelos usuários das barcas e, apenas alguns dias depois, as cenas de violência de seguranças da SUPERVIA contra cidadãos cariocas que utilizavam os serviços da empresa evidenciam que as privatizações de serviços e infra-estruturas urbanas não cumprem o que prometeram.
O principal argumento em favor das privatizações era o de que os serviços prestados à cidade melhorariam com a privatização. Fica evidente que eles não estão melhores.
Vi uma jornalista, no programa do Jô, tentar responsabilizar a greve dos ferroviários pelo episódio. Mas a greve não é dos ferroviários, é apenas dos maquinistas; e porque os maquinistas estão em greve? Por questões de segurança e a greve não foi considerada ilegal pela justiça, ou seja: os trens da SUPERVIA provavelmente estão trafegando sem condições e para que segurança dos cidadãos venha a ser restaurada foi preciso os trabalhadores entrar em greve.
No caso das barcas, também há evidentes necessidades de investimentos e então é o governo do Estado do Rio de Janeiro quem promete fazê-los. Mas a promessa com as privatizações não era a de que com elas o Estado estaria dispensado de fazer novos investimentos nos serviços privatizados, para que sobrassem mais recursos públicos para saúde e educação?
O comportamento de feitor, de raiz escravocrata, dos funcionários da SUPERVIA, que foi registrado no mesmo momento da greve não apenas por coincidência. Situações como está, são resultados de acúmulos que não se formam de uma hora para outra. São como avalanches: a neve se junta aos poucos na montanha, então um último floco cai e leva ao desabamento.
E assim, infelizmente, é provável que em breve aconteça alguma coisa de semelhante com o metrô, que está cada vez com mais filas, cada vez com mais demora entre as composições, cada vez com um ar condicionado pior, num carro cada vez mais lotado.
No reveillon, na praça Saens Peña na Tijuca, o metro disponibilizou apenas uma entrada para os passageiros, gerando uma fila que dobrava o quarteirão, onde o cidadão era obrigado a permanecer por trinta minutos. Um verdadeiro desrespeito à Cidade e aos usuários.
Fato é que apenas uma coisa progrediu com as privatizações: o preço pago pelas passagens. Barcas, Metrô e Trens (SUPERVIA), no Rio de Janeiro, após a privatização, tiveram reajustes nos preços das passagens que além de compensar a inflação, adicionaram ao valor da tarifa aumentos superiores a 150% além da inflação.
Assim, as famílias tiveram que recompor seus orçamentos, gastando menos com comida, saúde e educação, por exemplo, para poder exercer o direito de circular na cidade do Rio de janeiro. No período que vai de 2003 a 2006 o percentual dos gastos das famílias no Grande Rio com trens e metrô aumentaram, 29%, 20%, respectivamente. (Fonte: Mesentier, A.A.P. in: Blog Cidade em Movimento).
O sistema de transporte é decisivo para vida das cidades. O aumento dos custos nos transporte, aumenta os custos de mão de obra e inibe os deslocamentos dos cidadãos com conseqüências econômicas e sociais graves, inclusive o aumento da população de rua.