Da década de 70 do século XX para cá, aumentou a preocupação das cidades com o patrimônio cultural.
Muitas das vezes, essa preocupação tem estado ligada à idéia, bastante difundida, de que o patrimônio é um insumo relevante para as atividades turísticas e que a expansão das atividades turísticas, na contemporaneidade, propicia o desenvolvimento local, com geração de renda e emprego.
Os responsáveis pela gestão urbana passam a se perguntar então: Onde está o patrimônio cultural da nossa cidade? Quase sempre, os gestores, buscam identificar esse patrimônio cultural por parecença; ou seja, procuram em suas cidades casas, ruas, objetos, que possuam alguma semelhança com outros patrimônios de cidades já consagradas.
Porém, essa não é a melhor maneira de tratar a questão. Para responder, de um modo geral, onde está o patrimônio cultural de uma cidade, é preciso responder antes a seguinte questão: Em que consiste o patrimônio cultural das cidades?
Se, entre tantos objetos materiais e manifestações imateriais do mundo, existem alguns que se pode destacar como patrimônio, o que os faz especiais é o papel que podem cumprir como símbolos, com capacidade de representação de identidade coletivas.
Constituem patrimônio cultural de uma cidade, portanto, aqueles objetos e manifestações, que simbolizem aspectos relevantes de trajetória da gente daquela cidade, que representem a identidade cultural da gente da cidade.
Como as cidades diferem umas das outras, na sua trajetória histórica e na sua identidade cultural, é de se esperar que o patrimônio de uma cidade seja diferente do patrimônio de outra cidade. Por isso, não se pode querer identificar o patrimônio de uma cidade por parecença com o de outra, ou por analogia com a fisionomia de cidades já famosas por seu patrimônio.
Ao invés, é preciso olhar para alma de cada cidade para encontrá-lo, o patrimônio.
A alma da cidade é a sua cultura, que decorre do encontro da criatividade humana com os desafios e oportunidades produzidas pelas diferentes trajetórias históricas. Do encontro da criatividade com as diferentes trajetórias nasce a signo-diversidade que, assim como a biodiversidade, é riqueza da maior relevância na contemporaneidade.
Assim como a memória e a cultura de cada individuo se integra a memória e a cultura da sociedade onde ele vive, o mesmo acontece com as cidades. Se considerarmos a cidade como um organismo histórico, teremos que admitir que toda cidade possua uma memória particular e uma identidade cultural própria, mas que está esta integrada a um todo maior: a memória e a identidade existente à escala regional, nacional, ocidental, mundial.
Sendo assim, no mais das vezes, além do que patrimônio associado a sua trajetória histórica e cultura particular, a cidade possui ainda outros objetos materiais e manifestações imateriais que tem valor como patrimônio, para o seu estado, pais ou para o mundo. Esses patrimônios representam valores histórico-culturais que transcendem aos limites de cada cidade.
Num caso ou no outro, é o processo de reconhecimento da memória e da identidade cultural que constitui a referencia a partir da qual a cidade pode reconhecer e preservar seu patrimônio, tornando mais forte a sua alma.