Começa a se difundir no Rio a ideia equivocada de que a violência tem origem na favela; e tal equivoco tem ajudado a alimentar todos os piores preconceitos.
É preciso combater essa idéia que é estranha ao espírito carioca, que gosta de se misturar no samba, na praia e no futebol.
A violência não tem origem na favela, apenas se manifesta na favela de modo mais explicito, incisivo e forte, porque lá residem os pobres e os pobres são os que mais sofrem com a violência.
Vejamos. Há, por exemplo, a violência que tem origem no conflito inter-pessoal. Ela esta mais presente na favela porque os processos que desagregam o tecido social, como o desemprego e a alienação, atingem mais os mais pobres. Estes processos quando alimentados pela cultura da violência, dão origem a todo tipo de tragédia.
Mas a difusão da cultura da violência não é responsabilidade da favela. Não é lá que são produzidos os enlatados cinematográficos onde em 80% dos casos um cara (“o cara”) com uma pistola na mão resolve todos os problemas da sua vida. Nem, tão pouco, parte da favela a tele-difusão desses ‘filmecos’.
Já vi muita gente dizer que sempre viu esses filmes e nunca se tornou violento. Esquecem de considerar que a situação social e psicológica de cada individuo, é decisiva para o modo pelo será incorporada, culturalmente, as mensagens estéticas recebidas ele.
A violência que resulta da droga se manifesta de maneira flagrante na favela, mas os consumidores são em sua maioria do asfalto e a corrupção, que torna o combate ao trafico inócuo, também; do mesmo modo, a produção do armamento, que é meio indispensável à violência, não se realiza na favela.
Crimes como roubos de automóveis, de carga e pirataria, exigem um grau de organização e articulação econômica e institucional, que também não está na favela.
Enfim, as bases sobre as quais a violência se desenvolveu e se expandiu na cidade do Rio de Janeiro estão localizados nos lugares abastados.
Vale lembrar que as grandes máfias do nosso tempo surgem a sombra de poderosos Estados que governam poderosas economias e não da pobreza.
É também por isso que é tão difícil combater a violência.