sábado, 12 de agosto de 2017

Pagamento de mensalidades em universidades públicas: porque eu sou contra?

Porque eu sou contra a cobrança de mensalidade nas universidades públicas?
A primeira razão é porque a carga tributária, que incide sobre as famílias, já é alta, no Brasil; e, cobrar pela universidade, representa na prática um aumento da carga tributária, que incide sobre as famílias. Já imaginaram se a moda pega e, com diferentes justificativas, os serviços públicos começarem a ser cobrados. O que vai ocorrer é um grande aumento da carga tributária sobre as famílias brasileiras.
Agora, olhando para questão de uma perspectiva acadêmica, o primeiro problema que surge decorre de que a cobrança da mensalidade acabara levando a universidade a um dilema: ou haverá comprometimento da qualidade do ensino e da pesquisa, ou haverá uma enorme elitização do ensino. Basta ver quanto custa uma boa universidade privada. (Veja o vídeo)
Vale dizer: mesmo as boas universidades privadas quase nunca desenvolvem pesquisa ou desenvolvem pouca pesquisa, porque a maior parte da pesquisa não tem retorno comercial. Conclusão: se financiadas por mensalidades, as universidades deixarão de desenvolver pesquisa e, consequentemente, os conteúdos do ensino tenderão a se desatualizar e, assim, formaremos profissionais incapazes de contribuir para o desenvolvimento. Na verdade a universidade pública vai desaparecer.
Vamos supor que, ainda assim, algumas universidades, consigam financiar suas pesquisas, no todo ou em parte, cobrando mensalidades. Se isso acontecesse, estaríamos promovendo uma injustiça, pois o beneficio que resulta do trabalho na universidade, não é apropriado só por seus alunos. Os benefícios da pesquisa acadêmica acabam se difundido por toda a sociedade, pois toda a sociedade precisa de profissionais qualificados e dos resultados pesquisa. Para efeito de explicação vamos dividir os resultados da pesquisa em dois grupos: o das grandes descobertas e o das pequenas descobertas.
No das grandes descobertas, podemos citar o exemplo de uma pesquisa recente da USP, onde médicos conseguiram dissolver um coagulo após um derrame. Essa pesquisa beneficiará não só a formação dos alunos daquela universidade, mas muitos alunos de muitas universidades; e, principalmente, toda pessoa que sofrer um derrame e sua família.
O segundo é das pequenas descobertas. Quase toda dissertação de mestrado, ou tese de doutorado, traz um pequeno avanço no conhecimento, por exemplo, uma dissertação pode indicar porque em certo bairro da cidade há um índice maior de doenças coronarianas, e isso permite a prefeitura realizar melhorias na cidade com benefício para a saúde dos moradores. O impacto do somatório das pequenas descobertas acadêmicas é enorme, porém é invisível (valeria a pena buscar indicadores para torna-lo perceptível para a sociedade!!)
Há ainda outra importante razão para não cobre pela universidade ou qualquer serviço público. O serviço público não só promove a equidade, como, ao fazê-lo, cria laços de solidariedade no tecido social. Esses laços são fundamentais em dois sentidos: contribuem para a redução do grau de violência e possibilitam a coesão em torno da solução de problemas comuns, o que é fundamental para o sucesso coletivo; e ainda que o individualismo e cotidiano do modo de vida mercantilizado, numa cidade rica em mecanismo de segregação, sugira que vivemos na base do “cada um por si e Deus sem poder ajudar”, a verdade é que muito poucos conseguem se beneficiar numa sociedade que vai mal como um todo, como temos visto.