O protesto espontâneo realizado pelos usuários das barcas e, apenas alguns dias depois, as cenas de violência de seguranças da SUPERVIA contra cidadãos cariocas que utilizavam os serviços da empresa evidenciam que as privatizações de serviços e infra-estruturas urbanas não cumprem o que prometeram.
O principal argumento em favor das privatizações era o de que os serviços prestados à cidade melhorariam com a privatização. Fica evidente que eles não estão melhores.
Vi uma jornalista, no programa do Jô, tentar responsabilizar a greve dos ferroviários pelo episódio. Mas a greve não é dos ferroviários, é apenas dos maquinistas; e porque os maquinistas estão em greve? Por questões de segurança e a greve não foi considerada ilegal pela justiça, ou seja: os trens da SUPERVIA provavelmente estão trafegando sem condições e para que segurança dos cidadãos venha a ser restaurada foi preciso os trabalhadores entrar em greve.
No caso das barcas, também há evidentes necessidades de investimentos e então é o governo do Estado do Rio de Janeiro quem promete fazê-los. Mas a promessa com as privatizações não era a de que com elas o Estado estaria dispensado de fazer novos investimentos nos serviços privatizados, para que sobrassem mais recursos públicos para saúde e educação?
O comportamento de feitor, de raiz escravocrata, dos funcionários da SUPERVIA, que foi registrado no mesmo momento da greve não apenas por coincidência. Situações como está, são resultados de acúmulos que não se formam de uma hora para outra. São como avalanches: a neve se junta aos poucos na montanha, então um último floco cai e leva ao desabamento.
E assim, infelizmente, é provável que em breve aconteça alguma coisa de semelhante com o metrô, que está cada vez com mais filas, cada vez com mais demora entre as composições, cada vez com um ar condicionado pior, num carro cada vez mais lotado.
No reveillon, na praça Saens Peña na Tijuca, o metro disponibilizou apenas uma entrada para os passageiros, gerando uma fila que dobrava o quarteirão, onde o cidadão era obrigado a permanecer por trinta minutos. Um verdadeiro desrespeito à Cidade e aos usuários.
Fato é que apenas uma coisa progrediu com as privatizações: o preço pago pelas passagens. Barcas, Metrô e Trens (SUPERVIA), no Rio de Janeiro, após a privatização, tiveram reajustes nos preços das passagens que além de compensar a inflação, adicionaram ao valor da tarifa aumentos superiores a 150% além da inflação.
Assim, as famílias tiveram que recompor seus orçamentos, gastando menos com comida, saúde e educação, por exemplo, para poder exercer o direito de circular na cidade do Rio de janeiro. No período que vai de 2003 a 2006 o percentual dos gastos das famílias no Grande Rio com trens e metrô aumentaram, 29%, 20%, respectivamente. (Fonte: Mesentier, A.A.P. in: Blog Cidade em Movimento).
O sistema de transporte é decisivo para vida das cidades. O aumento dos custos nos transporte, aumenta os custos de mão de obra e inibe os deslocamentos dos cidadãos com conseqüências econômicas e sociais graves, inclusive o aumento da população de rua.