quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A reestruturação produtiva e a cidade

A reestruturação produtiva e seus impactos sobre a cidade não são novidade, basta recordar a forma como as cidades foram impactadas pela revolução industrial que se iniciou em fins do século XVIII. A atual reestruturação produtiva se dá acompanhando a crise do fordismo, a partir do final da década de 1960, e  vem produzindo vários impactos sobre a cidade.

Um dos primeiros impactos da reestruturação produtiva que gerou desdobramentos urbanísticos foi o impacto dos containers sobre as áreas portuárias. O container não só afetou a mão de obra portuária, com desdobramentos sobre as áreas urbanas que abrigavam os grupos sociais vinculados a atividade portuária, como também afetou todo o processo de armazenamento de mercadoria nessas áreas, com consequente impacto sobre edificações e áreas urbanas ligadas ao armazenamento de cargas nos portos. “Os portos de Boston, Nova York, Baltimore, Roterdã, Amsterdã, Londres, Buenos Aires, Asntos e dezenas de outras cidades passaram por processos muito similares” [1]


Este processo se desdobrou em políticas urbanas, dando origem a processos de intervenção urbana. O caso de Baltimore (EUA) é visto como paradigmático, mas seguem-se outros como os casos Docklands, em Londres, Puerto Madero, em Buenos Aires, até o recente caso do “Porto Maravilha”, no Rio de janeiro. Essas intervenções se associaram a ideia de revitalização do “waterfront” das cidades.


Mas quando se fala da recente em reestruturação produtiva não se pode deixar de mencionar os computadores e a internet. Sim, computadores não são tudo no processo de reestruturação produtiva, mas os computadores e a internet desempenharam um papel importante nesse processo a partir da década de 80 na década de 90. Logo de inicio profissões como a dos datilógrafos sofreram grande impacto e acompanhando esse impacto houve uma redução significativa das áreas ocupadas por escritórios. Com a combinação da internet foi a vez de atividades como a dos bancos se reestruturarem. Esse processo afetou a contabilidade bancária com impacto sobre empregos e instalação dos bancos. Logo em seguida surgiram os caixas eletrônicos  que foram colocados dentro de farmácia do supermercado, espalhados pela cidade. Tudo isso com grande impacto sobre a localização das atividades urbanas nas cidades.

Ainda nos anos 1990 começa a se desenvolver o comércio via internet, atingindo de modo geral o “comércio de rua”. A Amazon Foi fundada em 1994. A empresa começou como um mercado online de livros, mas expandiu-se para vender eletrônicos, software, videogames, vestuário, móveis, alimentos, brinquedos e joias. Em 2015, a Amazon superou o Walmart como o varejista, nos EUA. O comércio via internet não afeta apenas as lojas comerciais, mas também a localização de produção. Um livro, escrito em inglês, pode ser produzido no Canadá e vendido aos EUA ou ao Brasil.

Na década inicial dos anos 2000 a internet e os computadores e celulares deram início a uma nova mudança que atingiu a difusão de produtos culturais, de jornais a shows musicais. Plataformas como podcast (2004), facebook (2004), youtube (2005), spotyfy (2008). No mesmo período lojas de aluguel de DVD para filmes, lojas de CD e livrarias foram também atingidos progressivamente, por essas plataformas e pelo comercio pela internet.

 Nesse período, jornais e revistas, por exemplo, passaram a ser veiculados pela internet, agora também a celulares que acompanham as pessoas em toda parte, atingindo toda a cadeia produtiva de jornais e revistas, da distribuição na banca de jornal, a fábrica de papel, passando por gráficas onde se realizava a impressão. E tudo isso trouxe consequências para a cidade, na medida em que produzem um esvaziamento econômico daquelas áreas onde se localizam as atingidas por esse processo, bem como as áreas de residência dos grupos sociais vinculadas a essas atividades.

O impacto do covid-19 o Home Office deu um salto no processo de transferência das cadeias de trabalho para a internet, atingindo fortemente as áreas centrais das cidades e processo de mobilidade urbana. Esta nova mudança aponta para uma reestruturação em grande escala sobre a localização do trabalho intelectual nas cidades, inaugurando uma nova fase de organização do trabalho no território.

 


[1] ver: A revitalização das Docklands londrinas. Guerra, Abilio, in: VITRUVIUS, Resenhasa online, 2005 – Link: https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/04.040/3159 )