domingo, 21 de abril de 2019

Suportes da memória, história dos grupos sociais e o patrimônio.


O patrimônio se constitui em um suporte da memória, tanto da memória inter geracional, aquela que é transmitida entre gerações, como da memória afetiva imediata dos grupos sociais, o que tem relação com o lugar dos grupos sociais na estrutura social e com o tipo de mudança que os processos sociais vão impondo a esses grupos, com quadros de perdas para uns e ganhos para outros. Assim, o mesmo suporte da memória (bem ou prática social tornada patrimônio) pode  representar diferentes afetos para diferentes grupos sociais.

O Cais do Valongo, por exemplo, evoca a escravidão e todo o sofrimento imposto aos que foram escravizados, sequestrados em sua terra de origem e colocados para trabalhar pelo uso da força e da violência, sem garantias dos direitos as liberdades mais simples do cotidiano, como, por exemplo, constituir família e mantê-la junto a si. Um filho ou marido ou esposa, podiam ser vendidos a vontade do senhor.

Naturalmente, grupos vinculados aos afro descentes e grupos vinculados aos escravocratas, tem diferentes perspectivas em relação ao Cais do Valongo e do quanto ele deve ser promovido, reconhecido e apropriado como patrimônio, pela sociedade.

As áreas urbanas de valor patrimonial, ocupadas por um determinado grupo social, que passou por uma expressiva mudança em sua situação social, tendem a também, por isso a conter certa polissemia, isto é, uma multiplicidade de significados associados a elas. Para toda a sociedade representam, formalmente, “o patrimônio”; para os grupos que ali viveram processos de ascensão social, ou decadência, representam um lugar de memória da prosperidade ou da dor.