Hoje é amplo o reconhecimento que a memória é tão importante para as coletividades humanas, quanto para os indivíduos. A memória é por um lado, a base para os processos de desenvolvimento, porto que não há aprendizado individual ou coletivo sem apoio da memória. Por outro lado, a memória é constituidora das identidades sociais, uma vez que uma solida identidade pressupõe o reconhecimento de uma trajetória histórica de constituição dessa identidade. Essa é uma perspectiva tão mais importante quando se considera que as identidades sociais são a base das relações intersubjetivas que se estabelecem entre classes sociais, grupos e pessoas; alimentando os processos de coesão e conflito social.
Essa dimensão da relevância da questão da memória, para as cidades, traz importantes implicações para
a questão da paisagem. Foi Maurice Halbwachs quem indicou que “as imagens
habituais do mundo são partes inseparáveis do nosso eu” indicando que a vivência
cotidiana dos territórios, por coletividades humanas, torna inseparáveis as
imagens do território e os fatos que ali se passaram, enlaçando memória e
paisagem de forma indissolúvel. Assim, a paisagem urbana se constitui num
elemento fundamental que está na base das memórias coletivas – e, portanto, das
identidades sociais – de uma coletividade humana. Nesse sentido, o arquiteto
Aldo Rossi, indica que a memória está ligada aos lugares vividos e afirma: “a
cidade é a memória coletiva e o lugar da memória”.
Ao mesmo tempo, com o desenvolvimento de produção,
reprodução e comunicação de imagem a distancia, dentro do processo de
globalização, a dimensão da paisagem ganha lugar central na projeção das
cidades “como espetáculo”, no âmbito das mídias globais. Sendo por um lado,
suporte da memória, e por outro, base de promoção nas mídias globalizadas, a
dupla dimensão da paisagem na cidade contemporânea, interroga a arquitetura e o
urbanismo, sobre o projeto e plano enquanto instrumento capaz de mediar positivamente a relação da
paisagem como o dinamismo da cidade contemporânea.
Halbwachs, Maurice. “A memória coletiva”. São Paulo:
Centauro, 2006.
Rossi, Aldo. “A arquitetura da cidade”. Lisboa: Edições Cosmos, 1977.