A cidade do Rio de Janeiro recebeu o
título da UNESCO de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural. A partir de
agora, o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Floresta da Tijuca, o Aterro do
Flamengo, o Jardim Botânico e a praia de Copacabana, além da entrada da Baía de
Guanabara, o forte e o morro do Leme, o forte de Copacabana e o Arpoador, o
Parque do Flamengo e a enseada de Botafogo - locais da cidade reconhecidos com
o título da UNESCO - deverão ser objeto de ações visando sua preservação
enquanto paisagem cultural.
Até agora, os sítios reconhecidos como paisagem cultural eram áreas rurais, sistemas agrícolas tradicionais, jardins históricos e locais de cunho simbólico, religioso e afetivo. O reconhecimento do Rio de Janeiro traz para lista da UNESCO a paisagem cultural de uma grande metrópole, como objeto de reconhecimento patrimonial e preservação.
Nesse contexto, não se pode deixar de considerar as teorias que situam a paisagem no âmbito de uma relação entre a cultura, um fenômeno da consciência social, e o habitat humano, o mundo exterior á consciência. A noção de paisagem de valor patrimonial tem definições precisas da UNESCO, mas nem por isso a noção de paisagem cultural passa a ser tão precisa a ponto de deixar de ser objeto de reflexão do urbanismo, da geografia, da sociologia, da antropologia, da estética, enfim dos diversos campos de reflexão acadêmicos que tomam a relação entre as sociedades humanas e seu habitat como objeto de estudo.
A noção de paisagem, em si, evoca uma percepção estética que a consciência realiza do mundo exterior. Vale lembrar que a para a pintura paisagista, que ganha força a partir do renascimento, a composição se inicia coma escolha de um segmento de mundo que será representado do ângulo a partir do qual ele será representado, procedimento que estabelece o que é paisagem e o que não é.
Se toda percepção que a consciência realiza do mundo é, de fato, mediada pela cultura, o recorte estético implícito na noção de paisagem, por si mesmo, torna ainda mais evidente essa mediação cultural. A noção de paisagem pressupõe a escolha de certas partes e de certos olhares em detrimento de outros, uma seleção e valoração estética de uma parcela do mundo percebido pela visão.
Assim, na medida em que a noção de paisagem remete a escolha de um ângulo de observação, contemporaneamente, não se pode deixar de considerar que, nas múltiplas possibilidades da construção das paisagens nas mídias, nem sempre há correlação efetiva entre esses diferentes ângulos de observação, ou seja, imagens de uma cidade produzidas de um helicóptero nem sempre são corroboradas pelos passeios por dentro das cidades. Sendo assim, ainda que a visão produzida pelo helicóptero possa exercer fascínio sobre as pessoas, só a paisagem experimentada no cotidiano da cidade será capaz de consolidar relações e produzir uma imagem positiva duradoura da cidade.
Na vida contemporânea a preocupação com a paisagem ganha força com o desenvolvimento dos meios de comunicação de imagem à distancia: a fotografia, o cinema, a televisão, a TV colorida, o sistema computador-internet. Esse desenvolvimento propiciou a divulgação das cidades e regiões associadas a divulgação de suas paisagens. Em decorrência capacidade de atração de fluxos econômicos internacionais passou a estar influenciada pela capacidade da paisagem divulgada nas mídias contribuir para uma imagem positiva de uma cidade ou região.
“A beleza se paga”. A frase cunhada por Agache, urbanista francês que elaborou o Plano do Rio de Janeiro, no final dos anos 20 do século XX, é mais atual que nunca. Com uma clarividência quase secular, Agache alertava para a importância de preservar a paisagem, se não por outro motivo, porque ela constituía um ativo econômico relevante para a cidade e seus cidadãos. A questão da paisagem leva, portanto, a reflexão sobre a interface com a temática da economia da cultura e o desenvolvimento das cidades.
Entre as atividades econômicas, não só os fluxos turísticos e a atividades imobiliárias tem como um de seus condicionantes a paisagem. As atividades de serviço, que formam o setor preponderante das economias das metrópoles contemporâneas, de um modo geral, incorporam ao valor da sua produção o valor associado a imagem do lugar onde esses serviços são produzidos. O mesmo acontece com certos produtos que agregam alto teor de valor cultural, como, por exemplo, os da indústria da moda ou da manufatura do vinho. Nesses produtos o valor agregado, por isso, sofre a influência da projeção da imagem do lugar onde são produzidos, nas mídias globais. Como dissociar um vinho da Toscana da paisagem da Toscana publicada numa revista?
O reconhecimento da paisagem como um ativo, leva a políticas urbanas a ter como objetivo difundir, promover, preservar e, porque não, produzir a paisagem das cidades. Mas produzir paisagens, tem significado, em muitos casos, investir em projetos que tem por objetivo impregnar de uma estética marcante certas partes das cidades, o que tem sido feito com a introdução de edificações ícones ou através de projetos urbanos, elaborados por arquitetos de renome internacional. Essas intervenções introduzem uma imagem esteticamente forte nos espaços urbanos e tem sido identificado por alguns autores como uma estratégia de city marketing.
Uma coisa é preservar paisagens de valor patrimonial ou até mesmo promover o urbanismo para aprimorar as qualidades estéticas de uma cidade respeitando sua identidade cultural e seus espaços de sociabilidade pública, outra coisa muito diferente é tentar produzir paisagens impressionantes, que mais pelo inusitado (que por qualquer outro motivo) satisfazem o ‘habitus de novidade’ da sociedade contemporânea (sobre a noção de “habitus de novidade” ver nesse blog: http://leonardomesentier.blogspot.com.br/2012/01/patrimonio-historico-cultural-o-habitus.html ).
Paisagens de valor patrimonial, de valor para identidade e memória são produzidas ao longo de um processo secular por relação de uma formação social com um sítio geográfico; nelas o valor para a identidade cultural é fruto de um processo histórico irreprodutível e a relação com as estruturas culturais da sociedade e a paisagem é produto de uma relação orgânica. Outra coisa é introduzir modismos estranhos à cultura do lugar, cuja força estética se associa mais ao estranhamento e a certa capacidade de desarticular a própria identidade do lugar, que as qualidades simbólicas ou compositivas da intervenção arquitetônico-urbanística.
No mundo da cultura, tem coisas que só a história pode fazer.
Até agora, os sítios reconhecidos como paisagem cultural eram áreas rurais, sistemas agrícolas tradicionais, jardins históricos e locais de cunho simbólico, religioso e afetivo. O reconhecimento do Rio de Janeiro traz para lista da UNESCO a paisagem cultural de uma grande metrópole, como objeto de reconhecimento patrimonial e preservação.
Nesse contexto, não se pode deixar de considerar as teorias que situam a paisagem no âmbito de uma relação entre a cultura, um fenômeno da consciência social, e o habitat humano, o mundo exterior á consciência. A noção de paisagem de valor patrimonial tem definições precisas da UNESCO, mas nem por isso a noção de paisagem cultural passa a ser tão precisa a ponto de deixar de ser objeto de reflexão do urbanismo, da geografia, da sociologia, da antropologia, da estética, enfim dos diversos campos de reflexão acadêmicos que tomam a relação entre as sociedades humanas e seu habitat como objeto de estudo.
A noção de paisagem, em si, evoca uma percepção estética que a consciência realiza do mundo exterior. Vale lembrar que a para a pintura paisagista, que ganha força a partir do renascimento, a composição se inicia coma escolha de um segmento de mundo que será representado do ângulo a partir do qual ele será representado, procedimento que estabelece o que é paisagem e o que não é.
Se toda percepção que a consciência realiza do mundo é, de fato, mediada pela cultura, o recorte estético implícito na noção de paisagem, por si mesmo, torna ainda mais evidente essa mediação cultural. A noção de paisagem pressupõe a escolha de certas partes e de certos olhares em detrimento de outros, uma seleção e valoração estética de uma parcela do mundo percebido pela visão.
Assim, na medida em que a noção de paisagem remete a escolha de um ângulo de observação, contemporaneamente, não se pode deixar de considerar que, nas múltiplas possibilidades da construção das paisagens nas mídias, nem sempre há correlação efetiva entre esses diferentes ângulos de observação, ou seja, imagens de uma cidade produzidas de um helicóptero nem sempre são corroboradas pelos passeios por dentro das cidades. Sendo assim, ainda que a visão produzida pelo helicóptero possa exercer fascínio sobre as pessoas, só a paisagem experimentada no cotidiano da cidade será capaz de consolidar relações e produzir uma imagem positiva duradoura da cidade.
Na vida contemporânea a preocupação com a paisagem ganha força com o desenvolvimento dos meios de comunicação de imagem à distancia: a fotografia, o cinema, a televisão, a TV colorida, o sistema computador-internet. Esse desenvolvimento propiciou a divulgação das cidades e regiões associadas a divulgação de suas paisagens. Em decorrência capacidade de atração de fluxos econômicos internacionais passou a estar influenciada pela capacidade da paisagem divulgada nas mídias contribuir para uma imagem positiva de uma cidade ou região.
“A beleza se paga”. A frase cunhada por Agache, urbanista francês que elaborou o Plano do Rio de Janeiro, no final dos anos 20 do século XX, é mais atual que nunca. Com uma clarividência quase secular, Agache alertava para a importância de preservar a paisagem, se não por outro motivo, porque ela constituía um ativo econômico relevante para a cidade e seus cidadãos. A questão da paisagem leva, portanto, a reflexão sobre a interface com a temática da economia da cultura e o desenvolvimento das cidades.
Entre as atividades econômicas, não só os fluxos turísticos e a atividades imobiliárias tem como um de seus condicionantes a paisagem. As atividades de serviço, que formam o setor preponderante das economias das metrópoles contemporâneas, de um modo geral, incorporam ao valor da sua produção o valor associado a imagem do lugar onde esses serviços são produzidos. O mesmo acontece com certos produtos que agregam alto teor de valor cultural, como, por exemplo, os da indústria da moda ou da manufatura do vinho. Nesses produtos o valor agregado, por isso, sofre a influência da projeção da imagem do lugar onde são produzidos, nas mídias globais. Como dissociar um vinho da Toscana da paisagem da Toscana publicada numa revista?
O reconhecimento da paisagem como um ativo, leva a políticas urbanas a ter como objetivo difundir, promover, preservar e, porque não, produzir a paisagem das cidades. Mas produzir paisagens, tem significado, em muitos casos, investir em projetos que tem por objetivo impregnar de uma estética marcante certas partes das cidades, o que tem sido feito com a introdução de edificações ícones ou através de projetos urbanos, elaborados por arquitetos de renome internacional. Essas intervenções introduzem uma imagem esteticamente forte nos espaços urbanos e tem sido identificado por alguns autores como uma estratégia de city marketing.
Uma coisa é preservar paisagens de valor patrimonial ou até mesmo promover o urbanismo para aprimorar as qualidades estéticas de uma cidade respeitando sua identidade cultural e seus espaços de sociabilidade pública, outra coisa muito diferente é tentar produzir paisagens impressionantes, que mais pelo inusitado (que por qualquer outro motivo) satisfazem o ‘habitus de novidade’ da sociedade contemporânea (sobre a noção de “habitus de novidade” ver nesse blog: http://leonardomesentier.blogspot.com.br/2012/01/patrimonio-historico-cultural-o-habitus.html ).
Paisagens de valor patrimonial, de valor para identidade e memória são produzidas ao longo de um processo secular por relação de uma formação social com um sítio geográfico; nelas o valor para a identidade cultural é fruto de um processo histórico irreprodutível e a relação com as estruturas culturais da sociedade e a paisagem é produto de uma relação orgânica. Outra coisa é introduzir modismos estranhos à cultura do lugar, cuja força estética se associa mais ao estranhamento e a certa capacidade de desarticular a própria identidade do lugar, que as qualidades simbólicas ou compositivas da intervenção arquitetônico-urbanística.
No mundo da cultura, tem coisas que só a história pode fazer.